A inovação da impressão 3D em Implantologia
A clínica OralMED Aveiro foi palco de um dos tratamentos mais inovadores em reabilitação oral. E que permite a pacientes que não possam ter implantes convencionais voltar a ter dentes fixos. Falámos com o Dr. Nuno Cintra, especialista em Cirurgia Oral e Diretor do Conselho Científico do Grupo OralMED Saúde, para ficar a conhecer melhor esta técnica que já é utilizada, sempre que indicada, por alguns cirurgiões orais do Corpo Clínico OralMED.
O Dr. Nuno Cintra foi o cirurgião responsável por este procedimento. Pode explicar-nos em que consiste?
Este procedimento denomina-se Reabilitação Fixa com Implante Personalizado. Consiste na colocação de um implante individualizado e específico ao doente. Este implante é feito através de uma impressão 3D que se obtém através da leitura de uma tomografia axial computorizada da quantidade óssea disponível e de acordo com a localização de estruturas nervosas e vasculares a evitar. Conseguindo-se assim não só desenhar o implante em conformidade com a anatomia do doente, mas também encontrar os pontos ideais de fixação do implante, pois este é fixo ao osso com parafusos de osteossíntese, o que implica necessariamente uma quantidade mínima de osso disponível.
Antes da colocação do implante, é enviado ao cirurgião um exemplo 3D da peça antes de esta ser concluída, o que permite efectuar algumas alterações de acordo com o desejado, desde que as condições anatómicas existentes assim o permitam.
O implante individualizado obtém-se através da impressão 3D.
Quais são os objetivos deste tipo de procedimentos?
Com a entrada na Medicina Dentária das impressoras 3D, o que aconteceu por volta de 2012, foi possível, utilizando biomateriais já conhecidos, nomeadamente o pó de titânio, construir implantes de acordo com a disponibilidade óssea do doente. Estes, estão indicados nos casos de atrofias ósseas severas, ou seja casos em que a reabilitação oral fixa seja ela total ou parcial, não é possível realizar utilizando implantes unitários convencionais. Assim, e de acordo com a anatomia do doente, é possível construir uma peça única ou várias a que chamamos o implante individualizado, para a reabilitação oral fixa do doente mesmo em casos com elevada perda óssea, os quais seriam resolvidos até então recorrendo a técnicas mais invasivas com maiores riscos e complicações como os transplantes de osso, a lateralização do nervo dentário inferior, os implantes zigomáticos ou extra-maxilares.
Este caso em concreto, tratava-se de uma doente desdentada total com grande reabsorção óssea do maxilar superior, que ambicionava voltar a ter dentes fixos. Após o diagnóstico inicial clínico e radiográfico, bem como a discussão do caso entre colegas, chegou-se à conclusão que um implante individualizado seria a melhor solução para se conseguir tal objectivo.
Não é a primeira vez que este tipo de procedimento se realiza nas clínicas OralMED.
Porque optou por este procedimento?
Comecei a utilizar implantes individualizados há cerca de 5 anos após ter participado num congresso onde um colega Israelita apresentou uma técnica de abordagem a este tema que me pareceu bastante interessante, utilizando implantes fabricados em Israel. Fiz formação da mesma e utilizei durante algum tempo com excelentes resultados. Isto até ter tomado conhecimento da existência de uma empresa Portuguesa a trabalhar na área dos implantes individuais, com um conceito um pouco diferente. O qual, na minha opinião, faz sentido para determinados e específicos casos. Devo salientar que este tipo de solução tem indicação quando todas as outras soluções convencionais estão esgotadas, ou seja deve de ser considerada como uma solução de recurso, de fim de linha.
Foi o que aconteceu neste caso, a doente não tinha estrutura óssea suficiente para a realização de uma reabilitação total fixa utilizando implantes convencionais.
Embora sejam uma solução inovadora, os implantes personalizados só deve ser usados como último recurso.
Como correu esta intervenção?
A intervenção correu bem, dentro do expectável. Foi possível colocar e fixar o implante com a passividade necessária, o que, para mim, é um dos factores principais em termos de sucesso. Caso o implante não esteja passivo aquando da colocação, o que pode acontecer por discrepância da leitura da TAC, pode não ser possível colocá-lo. Por outro lado, mesmo sendo possível colocar, não estando completamente passivo, corremos o risco deste fraturar na colocação ou a curto prazo. Para minimizar este risco, é fundamental que a zona onde o implante vai ser colocado se encontre livre de qualquer peça dentária, raiz ou outro qualquer artefato que possa influenciar quer a leitura da TAC quer o desenho do implante.
Mesmo com todos os cuidados intra-operatórios, a doente desenvolveu uma parestesia do nervo infra-orbitário direito, a qual é certamente transitória pois para a colocação do implante é sempre possível identificar o nervo e ter noção da sua integridade. Estas parestesias são uma das complicações mais frequentes devido ao descolamento e tração dos tecidos necessária à colocação e fixação do implante, desaparecendo ao final de uns dias ou semanas. À data de hoje, não tenho nenhum caso com parestesia do nervo-infra-orbitário permanente nem conhecimento de nenhum caso descrito na literatura.
Visto termos conseguido uma boa estabilidade do implante foi possível carregar o mesmo com uma prótese provisória fixa, tal como numa reabilitação total fixa sobre implantes unitários, a qual será substituída dentro de aproximadamente 6 meses, assim que os tecidos moles o permitam, por uma prótese definitiva.
É necessário o Médico Dentista estar muito bem familiarizado com todas as estruturas anatómicas para realizar este procedimento com toda a segurança.
Com o nível de complexidade deste tratamento, poderia ser realizado por um Médico Dentista Júnior ou sem formação específica?
Tal como qualquer técnica cirúrgica, esta necessita de formação e principalmente de conhecimento anatómico preciso do leito cirúrgico, pois implica um descolamento maior envolvendo vários tecidos e estruturas anatómicas. Complicações mais ou menos graves podem acontecer quer no intra-operatório como no pós-operatório das quais saliento as fracturas ósseas, a hemorragia intra e pós-operatória, a lesão de estruturas anatómicas, a fractura de instrumentos nomeadamente de parafusos ou do próprio implante caso não esteja passivo como já tive oportunidade de referir.
Contudo tem a vantagem de trabalharmos dentro dos limites anatómicos da nossa especialidade, a cirurgia oral, o que não acontece de todo com outras técnicas que muitas vezes dão origem a complicações fora do nosso espectro clínico, o que legalmente pode ser muito difícil de justificar.
É uma técnica que deve ser efectuada preferencialmente por três intervenientes, o cirurgião, o ajudante e um assistente, mais um assistente volante. Na minha opinião, esta é uma das intervenções que pela complexidade e riscos associados o cirurgião deve ser especialista em cirurgia oral pela Ordem dos Médicos Dentistas e não apenas intitular-se. Tenho noção que tal não acontece, pois vários colegas não especialistas a aplicam e bem, mas um dos papéis da especialidade é exactamente o de proteger quer os doentes, quer os médicos, dos riscos e complicações associadas a determinadas técnicas. E esta é sem dúvida uma delas.
Sobre o Grupo OralMED Saúde
Recorde-se que o Grupo OralMED Saúde é o primeiro grupo português especializado em Medicina Dentária. Com mais de 10 anos de experiência no setor, conta já com mais de 50 unidades clínicas próprias, três laboratórios dedicados e com um contact center, o primeiro especializado na área da Saúde em Portugal.
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